As últimas semanas foram um verdadeiro desastre.
Eu fiz exatamente o oposto daquilo que tinha me comprometido a fazer este ano. O tamanho volume de tarefas urgentes me levou a ativar o “estado de emergência” e me concentrei somente em não fracassar nas grandes responsabilidades que estavam nas minhas mãos, abandonando todo o resto.
Há momentos em que esse empenho é necessário. Porém, por mais certo que as coisas tenham dado, eu sinto que fracassei no mais importante: deixei para trás o essencial, o que faz tudo ganhar sentido e propósito.
Abandonei os momentos de leitura e meditação, porque estava cansada e precisava dormir mais meia hora. Não fui treinar todos os dias, porque um treino de cinquenta minutos era muito tempo perdido. Não me alimentei bem, porque um pouco a mais de carboidratos poderia me dar alguma motivação.
Depois de um tempo de sucesso e constância, depois de tomar tantas boas decisões, é fácil cair na tentação de acreditar que um pequeno erro, uma pequena decisão ruim, não são suficientes para o enfraquecimento da vontade. Olhamos para toda uma trajetória de bons resultados e nos confortamos ao pensar que “é só dessa vez”. Afinal, não nos dedicamos tanto para chegar até aqui?
O caminho da constância, do desenvolvimento de hábitos e rotina, pode possuir uma fase de monotonia. Isto é, depois de passarmos por aquela etapa inicial mais difícil, cheia de obstáculos, dominamos medianamente nossas ações e alcançamos um pequeno sucesso: repetimos diariamente uma tarefa sem grandes dificuldades, sentimos o progresso.
No entanto, sem novos desafios, esse desenvolvimento cai em inércia. É por isso que acontecimentos como este, das minhas últimas semanas, acontecem. Nos encontramos, então, em um ponto de inflexão: ou aproveitamos essas novas dificuldades como impulsos para o crescimento, ou paralisamos e continuamos a caminhar de onde estamos.
Nem preciso dizer que falhei, né? E falhei feio.
Algumas pessoas podem achar que tudo isso é um exagero. Que estou sendo “perfeccionista”, que erros acontecem, que isso é só uma exceção, que eu não deveria ser tão dura comigo mesma… mas a verdade é que todo esse movimento de fracasso (e modo de pensar) esconde as maquinações de um vício preguiçoso.
Agir sempre de forma mínima, fazer somente o que é necessário, atender somente o que é urgente são apenas faces de um mesmo erro: a preguiça. É mais cômodo esperar que essas novas dificuldades passem ao invés de enfrentá-las, poupamos esforços. Perdemos de vista a excelência, a dedicação detalhista, a verdadeira vontade de aprimoramento.
A preguiça é um mal que tolhe a força de entrega. Evitamos os sacrifícios, nos protegemos das dores, economizamos sofrimento. Vivemos a vida de forma mínima, insignificante, sem abundância. E assim, nos tornamos negligentes, mesquinhos e miseráveis de amor.
Eu não falhei simplesmente porque deixei de cumprir com meus objetivos. Eu falhei porque fui preguiçosa e descuidada, não tive zelo com o uso do tempo e desempenho das minhas tarefas. Permiti que uma pequena decisão ruim influenciasse uma série de outras decisões ruins, até perceber que minha vida já se encaminhava para outra direção.
O que fazer, então, ao tomar esse abalo de consciência?
Santo Agostinho nos ensina que as virtudes são feitas da mesma matéria que os vícios. Logo, de uma mesma composição podem resultar um bem ou um mal, a depender da nossa ação.
Não há uma vez que cometo um erro que não me lembro deste ensinamento. Impulsivamente, a força do arrependimento se transmuta na energia necessária para agir de forma correta. E toda santa vez que a tentação me aparece, o mesmo movimento se repete no meu interior: o desejo de errar se torna a vontade de não mais errar. E o que era antes um vício, passa então a ser a prática do execício de uma virtude.
Para apreciar
Fishermen at Sea was the first oil painting Turner exhibited at the Royal Academy. It is a moonlit scene in the tradition of Horace Vernet, Philip James de Loutherbourg and Joseph Wright of Derby. These painters were largely responsible for fuelling the eighteenth-century vogue for nocturnal subjects. The painting also reflects the fashion for Sublime subjects, which gave viewers a sense of the overwhelming power of nature. The boldness of the moonlight contrasts with the weakness of the flickering lantern, emphasising nature's hold over the fishermen's fate. The rocks on the left are the Needles, off the Isle of Wight.