Desde que voltei a morar na cidade onde passei toda a adolescência, diversas lembranças daquela época ressurgem à minha memória. O tempo de colégio, ensino médio, estudos para o vestibular, as amizades, as pequenas responsabilidades e os primeiros deveres. Na época, todos pareciam tão grandes e árduos…
Eu tive uma adolescência tranquila, mas custosa. Não por um imenso volume de responsabilidades, a qual só havia uma: passar na faculdade; e sim pela postura que tratava as breves dificuldades que a acompanhavam. Hoje isso me faz rir, mas eu achava a coisa mais difícil do mundo levantar cedo todos os dias, ir para a escola e estudar muito para terminar o ensino médio e passar no vestibular.
Quando somos jovens, é comum que não aceitemos os deveres que ganhamos nessa primeira etapa da vida com receptividade. Sentimos que todas as novas e inesperadas obrigações nos são uma espécie de ofensa ou insulto. Cumprimo-as, mas cumprimo-as mal — visto que aqueles que estão acima de nós nos obrigam e nos fazem acreditar forçadamente que a vida agora é mais pesada do que na infância.
No entanto, para muito além da idade e crescimento natural, é isso, então, que abre o caminho entre a primeira e a próxima etapa do fluxo da vida: o dever. Amadurecemos à medida que novas responsabilidades nos invocam e, mais que isso, que as recebemos com hospitalidade e acolhimento — sem delas fugir ou negligenciar.
Essa postura, assim como às circunstâncias que mencionei no último texto, é o que define uma vida de verdadeiro crescimento e aprimoramento ou uma vida estagnada, frustrada e estéril. Recebemos responsabilidades ao sermos inseridos na hierárquica estrutura de funcionamento do mundo: deixamos de depender para servir, deixamos de ser um peso para gerar frutos.
Tenho meditado profundamente sobre isso nos últimos tempos, pois as dificuldades do dia a dia, por menores que sejam, tentam à fraqueza de nos largar às custas de reclamações e lamúrias — ao passo que poderíamos usá-las como impulso ao nosso crescimento, se a elas nos abríssemos.
No entanto, essa abertura, essa mudança de postura diante das responsabilidades e obstáculos, têm o preço de deixarmos de nos poupar e nos proteger de todo e qualquer incômodo e desconforto. É necessário um movimento de entrega voluntário, que eu só passei a ter quando me olhei honestamente e percebi que só haviam dois caminhos possíveis: crescer ou atrofiar.
Apesar de hoje aceitar com mais receptividade os deveres que a vida me encarrega, sei que há muito mais a ser alcançado. O que está em minhas mãos ainda é pouco comparado ao que está por vir. E aqui, a máxima do Evangelho é verdadeira: só pode ser fiel no muito quem foi fiel no pouco. Pra quem o pequeno não é pequeno, o grande não pode ser grande.
Para apreciar
In 1822 the art patron and collector, Heinrich Wagener, commissioned a “times of day” diptych from Friedrich. The morning picture became The Solitary Tree. A grassy landscape with groups of trees, ponds, and villages extends to the foothills of the mountains behind the spires of a Gothic town. One mighty oak stands like a statue in the middle of the composition. A shepherd shelters beneath it. Its great trunk has withstood wind and weather, but the tips of the branches of this giant tree have already died off. Above the tree, the clouds form of a kind of cupola. Transgressing against the classical laws of composition, Friedrich cuts through all the various levels of the picture with the tree as the central foreground axis. And thus, at a stroke the oak tree takes on the role of mediator between heaven and earth, between the transcendental and the mundane. As an image of nature, it embodies natural strength and the life force, while at the same time the with-ered branches point to a life beyond this one.